“Ou eu era a única ou a primeira mulher a ocupar aquela cadeira”

Gabriela Baumgart, presidente do conselho de administração do IBGC, fala da sua trajetória, diversidade, ESG e do IBGC em 2023

  • 27/01/2023
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

A atuação de mulheres em conselhos e o trabalho do IBGC em 2023 são os temas da entrevista com Gabriela Baumgart, presidente do conselho de administração do instituto. Ao Blog IBGC, Gabriela contou como ingressou na organização e fortaleceu seu engajamento com a causa da governança corporativa, especialmente no âmbito da empresa de controle familiar. Também detalhou como enxerga a pauta ESG no Brasil e quais são os principais desafios que agentes de governança enfrentarão. Confira:

BLOG IBGC: Como você conheceu o IBGC?
Gabriela Baumgart: Conheci o IBGC por meio das referências de outras famílias empresárias. Tínhamos o desafio de organizar o grupo empresarial onde fui executiva e sou acionista e passei a integrar o conselho. Ao buscar cursos e ao me aprofundar no que é governança corporativa em empresas familiares, me apaixonei pelo tema. Vários membros da minha família se inscreveram em cursos de formação que o IBGC oferece, pois era necessário entender um pouco mais sobre governança na empresa familiar para que pudéssemos pensar em como nossa empresa se desenvolveria melhor e de que forma trataríamos de temas como sucessão, entre outros. A partir daí, iniciei uma jornada de conhecimento. E não foi somente por meio dos cursos. Participei de eventos, como os congressos do instituto, acompanhei publicações e ingressei em espaços colaborativos. Entre eles, a comissão de Empresas de Controle Familiar. Entrei como membro em 2017 e de 2018 a 2020 tive a oportunidade de coordenar a comissão. Depois, trilhei o caminho como membro do conselho de administração e agora, muito contente, sigo presidindo o colegiado.

Quando você começou a atuar com governança em empresas de controle familiar?
A minha trajetória na empresa de controle familiar onde sou sócia começou depois de eu ter atuado como advogada de direito empresarial em grandes escritórios em São Paulo. Como também tenho formação em Administração de Empresas, durante uma transição, fui chamada para atuar no Grupo Baumgart, onde fiquei 18 anos. O Grupo atua em setores variados, como shoppings, varejo, feiras, hotelaria e imobiliário. Em 2017, nós, como família, decidimos sair da gestão e passar a atuar de forma ativa nos conselhos e comitês. Em paralelo à carreira como executiva do grupo passei a ser convidada a participar de conselhos de outras organizações e grupos empresariais. Por isso, aos 35 anos iniciei a jornada em conselhos, hoje sendo esta minha principal atuação.

Foi um desafio ser jovem e mulher nesta trajetória em conselhos de administração?
Sem dúvida nenhuma. Fui convidada a participar de processos de seleção para conselhos ainda muito jovem. Aos 35 anos eu já era conselheira em outras organizações. Sempre foi muito natural participar do mundo corporativo, mas na maioria das vezes ou eu era a única ou a primeira mulher a ocupar aquela cadeira. Com o tempo, algumas barreiras foram se quebrando.

Você acha que temos avançado na participação de mulheres em conselhos?
Hoje, tenho a felicidade de ter companheiras mulheres, seja em conselhos ou outras atividades exercidas. Mas nem sempre foi assim. Na época que me aproximei do IBGC, só cerca de 3% das cadeiras de conselhos de companhias abertas eram ocupadas por mulheres. Hoje, esse número avançou e estamos chegando a 18%, como concluiu o estudo Global board diversity tracker, da Egon Zehnder, em 2022. O caminho é longo, mas posso dizer que é uma alegria poder participar deste movimento de diversidade e inspirar outras mulheres. O IBGC, inclusive, foi precursor ao criar o Programa Diversidade em Conselho (PDeC) em 2014. Neste ano, começaremos a sétima turma. É um trabalho de formiguinha, mas que tem contribuído para a diversificação dos conselhos. No ano passado, o IBGC deu outro passo importante ao realizar o Programa de Equidade Racial em Conselhos. Formamos cerca de 30 profissionais autodeclarados negros no Curso para Conselheiros, o mais tradicional do instituto. Estamos aprendendo muito com essas iniciativas. É como um processo de letramento. E vamos seguir com essas e outras ações neste ano.

Na sua avaliação, quais são outros desafios em governança corporativa que os executivos e conselheiros ainda precisam enfrentar?
Aqui no IBGC, tratamos a governança corporativa como uma jornada. Na empresa de controle familiar, assim como em outras organizações, os agentes de governança possuem desafios de organização de processos, de controle, além de desafios estratégicos, e de inovação. E é a governança que ajuda a organizar tudo isso. A governança corporativa guia a empresa, independentemente de seu tipo ou porte. Por isso, os princípios básicos da governança são transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.  No caso das empresas de controle familiar, a governança é importante para superar desafios ao longo do tempo, preservando e gerando valor entre gerações e preparando pessoas para os desafios não só atuais, mas aqueles do futuro. É importante questionar que conselhos do futuro queremos. Especialmente nas empresas familiares, é crucial alinhar a governança corporativa e a governança familiar, considerando os âmbitos família, propriedade e negócio, que constituem os três círculos de governança, conforme sugere o professor John Davis, do MIT Sloan.

Os critérios ambientais, sociais e de governança têm se popularizado como imprescindíveis à longevidade das organizações. Quais as perspectivas em ESG para o IBGC neste ano?
Partimos do princípio de que não existe social e ambiental sem uma governança forte e estruturada, com seriedade, indicadores e transparência. Eles são critérios que se interseccionam de alguma forma e os agentes de governança são importantes para trazerem esse tema à estratégia dos negócios, de forma transversal, principalmente para que seja uma pauta que saia da intenção, para a ação. Os conselhos têm papel fundamental na agenda ESG, e no real propósito para diversos stakeholders. O IBGC já atua, por meio de cursos, eventos, pesquisas e publicações no tema. Sua trilha ESG que capacita profissionais, por exemplo, inclui a Comunidade ESG, que além do curso, oferece a conselheiros, acionistas e CEOs encontros de aprendizagem e vivências nacionais e internacionais sobre o tema. O instituto também é o Chapter Zero Brazil, capítulo brasileiro da Climate Governance Initiative (CGI) que tem por objetivo sensibilizar e capacitar os conselheiros de administração para que identifiquem os riscos e oportunidades que a emergência climática representa.

Além disso, o que podemos esperar do IBGC, em 2023?
O ano de 2023 é muito importante para o IBGC, pois lançaremos a 6ª Edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, documento de consulta e referência a organizações brasileiras de diferentes portes, setores, naturezas jurídicas e níveis de maturidade. Uma proposta do material foi submetida à audiência pública e ficará disponível até 10 de fevereiro de 2023 para que possamos ouvir toda a sociedade e acatar sugestões e comentários. A proposta disponível para comentários adotou premissas significativas para o IBGC. A primeira delas é tornar o Código mais inclusivo. Seguimos com foco nas melhores práticas, mas é sempre importante mostrar a importância da governança para todos os tipos de organização. Esperamos envolver toda a comunidade de agentes e aliados da governança, em especial os Capítulos regionais do IBGC. Fechamos 2022 com metade dos nossos associados pessoa física fora do Estado de São Paulo. Isso denota a importância da capilaridade no trabalho de disseminação. Além do lançamento do Código, estamos prevendo uma série de iniciativas bastante diversas. Teremos eventos regionais presenciais, nosso tradicional Congresso, além da Jornada Técnica com destino à Inglaterra, em setembro. São muitas as novidades, além de um trabalho intenso nos bastidores – alguns demoram um pouco mais a aparecer. Temos, por exemplo, um Comitê de Jornada Digital atuante e que, baseado em análises estratégicas, definiu iniciar essa transformação pela área de educação do instituto.

Gostaria de deixar uma mensagem final?
É sempre válido agradecer aos meus colegas no conselho, à equipe e ao nosso time de voluntários pela jornada que estamos trilhando. E também é sempre importante reafirmarmos o que nos une: a governança corporativa é um meio para alcançarmos a sociedade que queremos. No último Congresso do IBGC falamos sobre governança de impacto, que resumi da seguinte forma: governança de impacto é a prática empresarial guiada por valores que são essenciais e inegociáveis.

Confira as últimas notícias do Blog do IBGC

19/04/2024

Fique por dentro das ações de Vocalização e Influência

18/04/2024

Programa Diversidade em Conselho: IBGC inicia 8ª edição

17/04/2024

Confira como foi o Seminário de Finanças e Governança em MG

17/04/2024

Deborah Wright é eleita presidente do conselho de administração do IBGC

16/04/2024

Compliance e integridade corporativa são temas de fórum no IBGC

15/04/2024

Conheça os novos espaços colaborativos do IBGC