IBGC 30 anos: “A mudança é o núcleo do legado”

Valeria Café, diretora-geral do IBGC, celebra longevidade e influência do instituto consolidadas ao longo de três décadas

  • 27/11/2025
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

Em 27 de novembro de 1995, o empresário sueco Bengt Hallqvist e o consultor empresarial e professor universitário João Bosco Lodi reuniram 36 pessoas em um encontro, em São Paulo, para fundar um instituto que fosse uma rede para conselheiros de administração do Brasil. Nascia ali o Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração, o IBCA. Inspirados no modelo americano da então National Association of Corporate Directors (NACD), o objetivo era ampliar as interlocuções profissionais com esse público para aprimorar uma prática ainda pouco conhecida no país: a governança corporativa. Em 1999, o instituto ampliou seu escopo passando a se chamar Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

“O IBGC surgiu idealizado por líderes. Para mim esse é seu principal diferencial. Ele nasceu a partir de pessoas que nutriam ótimos relacionamentos e que foram persistentes no objetivo de fundar um instituto que hoje é referência em governança corporativa. Muitos empresários não conheciam a governança corporativa antes do IBGC surgir”, comenta Valeria Café, atualmente diretora-geral da organização. Ao Blog IBGC, a diretora-geral falou sobre sua relação com o instituto, detalhou momentos importantes até chegar a este aniversário e contou o que espera para o futuro da organização. Confira a seguir:

Blog IBGC: Em que momento desses 30 anos você chegou ao IBGC?
Em meados de 2016, recebi uma ligação de uma headhunter para participar de um processo seletivo aqui no IBGC. Eu já tinha experiência em empresas como Coca Cola, Whirpool, HP e no banco JP Morgan. Mas era um momento da carreira em que eu estava trabalhando e estudando na área de relações governamentais, e o IBGC queria focar nisso também. Havia ajudado a fundar, inclusive, o Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV). Passei por todas as etapas até chegar à entrevista com o conselho de administração e passei. Assumi o cargo de diretora de Vocalização e Influência com o desafio de estruturar essa nova área.

Como foi esse processo e seus principais momentos?
Tivemos muitas conquistas a partir da criação desta área que hoje se chama Conhecimento e Impacto. A partir de 2016, ampliamos o trabalho de advocacy para fortalecer o regramento de governança corporativa no Brasil defendendo um sistema ético e íntegro, especialmente no que diz respeito à Lei Anticorrupção (2013) e à Lei das Estatais (2016). Criamos o Portal do Conhecimento (2018), que é uma espécie de Wikipedia da governança, onde disponibilizamos gratuitamente para a sociedade pesquisas e publicações autorais do IBGC e de parceiros. Em meio à pandemia, um dos momentos mais desafiadores para todo o mundo, tínhamos o foco de aumentar a capilaridade do instituto em diferentes estados do Brasil. E como fazer isso sem poder viajar? Foi difícil, mas passamos a fazer tudo on-line naquele momento. Lembro de sair do escritório em março de 2020 e só voltar dois anos depois, pois o cuidado com as pessoas sempre foi prioridade no IBGC. Contratamos uma consultoria para nos ajudar no diagnóstico local. Em 2021, éramos nove capítulos e núcleos. Hoje, somos 12 regionais. Também impulsionamos nossa agenda de sustentabilidade trazendo para o Brasil uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, para fortalecer a governança climática. A iniciativa é representada pelo Chapter Zero Brazi, criado em 2021. Promovemos outros lançamentos como o Centro da Família Empresária e a criação de um evento com a curadoria exclusiva das comissões do IBGC, o Governança 360, que está em sua sexta edição e é onde comemoramos sempre os aniversários do IBGC.

Como essas experiências, na sua visão, impactam a influência do IBGC hoje?
Tudo isso fortaleceu a ideia de como ter uma governança corporativa para o empresariado brasileiro. Governança é para todas as empresas, independentemente do tipo e porte. E essa ideia que trabalhamos há algum tempo ficou ainda mais forte depois que revisamos o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, no ano de 2023. Esse foi um ano em que também aumentamos o nosso número de associados, um pouco mais de 50% dos nossos voluntários passaram a se concentrar em nossos 12 capítulos e núcleos, e foi um momento que nos aproximamos ainda mais do público de famílias empresárias, que vive muitas questões sobre o equilíbrio entre o negócio e o legado. Isso aconteceu, porque fizemos um roadshow de lançamento com o código e percorremos o Brasil.

Hoje é muito comum que as empresas associem longevidade à capacidade de se adaptar às mudanças. Por outro lado, o Código do IBGC se refere ao propósito como a razão de existir das organizações. Como você acha que o IBGC equilibra adaptabilidade e propósito na prática?
Estamos sempre avaliando qual é o melhor caminho para o instituto cumprir seu propósito de uma governança corporativa melhor para uma sociedade melhor. Mas assim como nos anos 1990, Bengt e o grupo de idealizadores batiam de porta em porta nas empresas para divulgar o que era governança corporativa, esse movimento de diálogo, de certa forma, continua muito presente no dia a dia do IBGC. Viajamos pelo Brasil para nos conectarmos com o empresariado de nossas regionais, batemos na porta dos formuladores de políticas públicas, e realizamos todo ano uma jornada técnica para conversar com pares internacionais. Nas duas últimas jornadas, por exemplo, estivemos na China e nos Estados Unidos. Nosso livro comemorativo de 30 anos contou com o prefácio da OCDE e do Banco Mundial, organizações que reconhecem há anos o trabalho do IBGC. Em 2002, Bengt escreveu “tentamos fazer aquilo que pregamos”. Algo que é muito atual, porque entendo que a mudança é o núcleo do legado, mas cultivar o propósito faz com que a gente não se desconecte das bases de nossa cultura.

À frente da diretoria-geral, o que você espera para o futuro do IBGC e da governança?
Vejo o IBGC como referência permanente na história da governança corporativa no Brasil, já que agregamos valor de três maneiras: por meio da produção e disseminação de conhecimento, capacitação dos agentes de governança e influência em normas e políticas públicas. Para o cenário futuro teremos que lidar com a disrupção e novas formas de gestão, IA, questões geopolíticas, computação quântica, governança climática, entre outras. Além de criar e fortalecer relações de confiança com os pares do ecossistema de negócios. Ou seja, serão cenários de complexidade. Mas possíveis de serem trabalhados a partir da ética, do propósito e de princípios. Esse também será o futuro da governança.

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