IBGC completa 25 anos de jornadas técnicas internacionais

Segundo Leonardo Viegas, organizador das primeiras jornadas, o melhor legado foi a credibilidade do IBGC no exterior

  • 13/11/2023
  • Angelina Martins
  • Bate-papo

Em 2023, o IBGC celebra 25 anos da sua primeira Jornada Técnica Internacional que foi realizada nos Estados Unidos. Sempre com foco no aprimoramento de boas práticas de governança e em conhecer in loco experiências internacionais, o IBGC já esteve mais duas vezes nos EUA e outras três na Inglaterra, além de Canadá, França, Israel, Singapura/Hong Kong, Alemanha, Austrália e Suécia/Finlândia. Houve ainda, em 2018, a primeira edição da Jornada Técnica Brasil, em Recife (PE).

Para contar um pouco da história dessas jornadas técnicas, o Blog IBGC convidou Leonardo Viegas, co-fundador e conselheiro do IBGC em três mandatos, coordenador da Comissão de Educação, da Comissão Internacional e do Colegiado de Indicação. Também destaca-se sua atuação como presidente de conselho e conselheiro de administração de diversas empresas, e como membro voluntário do Private Sector Advisory Group do Banco Mundial/IFC. Confira:

Blog IBGC: O que motivou a idealização da jornada técnica internacional, há 25 anos?
Leonardo Viegas: A jornada técnica nasceu como programa educativo para conselheiros de administração. Cresceu com o network entre associados, e pôde se tornar um valioso instrumento para desenvolver a visão estratégica do Instituto. Em 1995, o idealizador do IBGC, Bengt Hallqvist, participava de conselhos e eventos internacionais, atento ao movimento que começava a ser conhecido como Corporate Governance. Em parceria com o conselheiro e professor João Bosco Lodi, ele organizou uma jornada de visitas ao exterior para empresários brasileiros conhecerem melhor os mercados financeiros globais.

A escolha dos Estados Unidos para a primeira visita em 1998 foi óbvia, por ser o maior mercado de capitais do mundo. Em parceria com a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas), cerca de vinte brasileiros investidores institucionais como a Calpers, as bolsas New York Stock Exchange e Nasdaq, o Citibank e o BankBoston. O grupo participou também de uma palestra na Harvard Business School. A escolha da segunda jornada também foi óbvia: o Reino Unido era o segundo maior mercado financeiro e em vários aspectos, o mais amadurecido, e incluiu também a França.

Como era organizada a jornada técnica naquela época?
As duas primeiras jornadas foram organizadas quando o IBGC tinha apenas algumas dezenas de associados e uma secretária. O trabalho foi todo voluntário, por meio de alguns associados, contatos no exterior por telefone e fax (fax!), e localmente convidando potenciais interessados. A primeira jornada incluiu membros da Abrasca. A segunda foi mais desenvolvida em temas de governança corporativa. Visitamos associações de investidores, a London Stock Exchange e o Bank of England, e na França a OECD e a COB, equivalente à CVM no Brasil.

Destaco a iniciativa e o voluntariado da iniciativa. O IBGC não era tão conhecido na época, e foram feitos esforços para reduzir o custo da participação de jornadeiros. Não foram contratados agentes de viagem nem assessorias locais. O programa foi divulgado aos participantes com endereços e horários dos encontros. Hotéis de baixo custo foram sugeridos, e cada um organizou e custeou sua viagem e despesas por conta própria.

Quais os mais importantes benefícios dessas primeiras Jornadas?
Além do aprendizado, o melhor legado foi o relacionamento e a credibilidade do IBGC no exterior. Na sequência, muitos líderes do movimento por melhor governança das empresas foram convidados e aceitaram vir ao Brasil e conhecer o IBGC. Destaco Sir Adrian Cadbury, coordenador da comissão que produziu o que é hoje considerado o primeiro Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa.

Percebi, de parte dos anfitriões no exterior, um misto de interesse e curiosidade com essas primeiras Jornadas do IBGC, especialmente de parte de organizações multilaterais como o Banco Mundial, International Finance Corporation (IFC), Center for the International Private Enterprise (CIPE) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que viram no instituto um modelo de organização independente e auto-financiado, com propósitos e valores a serem estimulados e replicados em outros países.

O prestígio crescente do IBGC gerou convites a seus instrutores para palestrar sobre a experiência brasileira na América Latina, Ásia, África e Leste da Europa. Assim, a comissão de capacitação do IBGC assumiu a organização da retomada de novas Jornadas Internacionais, e em 2008 fomos a Washington DC, apoiados pelo Global Corporate Governance Forum, ouvindo palestras de reguladores do mercado, de destacados ativistas de governança e participando no Congresso Anual da NACD – a National Association of Corporate Directors. Em seguida, foi criada uma comissão internacional para organizar as futuras jornadas, que passaram a ser repetidas anualmente ou a cada dois anos.

Quais os critérios utilizados para se definir as localidades a serem visitadas? Ao final de cada viagem, os jornadeiros se reuniam para avaliar a experiência e debater futuras alternativas. Foi assim que a Jornada para a Suécia e Finlândia em 2011 foi definida. A Jornada para a Austrália, em 2013, foi precedida por um estudo da Bovespa sobre seu extraordinário mercado de capitais. A JT para a Alemanha, em 2015, se destacou pela visita a empresas de classe mundial, longevas e de controle familiar. A Jornada para Hong Kong e Singapura, em 2017, conheceu grandes fundos de private equity e controle estatal. As Jornadas seguintes, para o Silicon Valley, Israel e Canadá, focalizaram startups e tecnologia avançada. A de 2023, para o Reino Unido, focalizou principalmente a questão ambiental.

De quais jornadas o senhor participou? Qual foi sua favorita?
Ajudei a planejar a primeira Jornada para Nova York e Boston em 1998; participei em 1999, em Londres e Paris; coordenei as de 2008 em Washington, 2009 em Londres e Paris, 2011 na Suécia, 2013 na Austrália; participei nas da Alemanha em 2015; no Silicon Valley em 2018; e em 2019 em Israel. A convite do Global Corporate Governance Forum e de outras instituições, dei palestras em eventos na África, Europa do Leste, Ásia e América Latina.

Pessoalmente, apreciei muito a jornada para a Suécia e Finlândia, países de pequena população, sede de empresas de classe mundial, a maioria de controle familiar e excelente nível de governança. Para essa jornada, tive que me dedicar ainda mais do que nas outras que coordenei – ela foi precedida por uma visita à embaixadora da Suécia em Brasília, que nos abriu várias portas no país.

O que a vivência em jornadas técnicas significa para o aperfeiçoamento das boas práticas de governança no Brasil?
As jornadas técnicas do IBGC ajudam a integrar nossos líderes e nossas empresas aos mercados e instituições globais. Elas cumprem sua função educativa e promovem o network com a comunidade internacional. Diversos assuntos, que já são discutidos em fóruns e eventos do IBGC podem ser enriquecidos por uma visão global aperfeiçoada nas jornadas. São exemplos os tópicos da questão ambiental, como clima e aquecimento global; a diversidade e a inclusão social; o impacto de novas tecnologias e seus riscos; o papel dos governos e, sobretudo, a qualidade da governança, agrupados na sigla ESG.

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