Masterclass com Satish Kumar traz reflexões ao IBGC

Ativista e filósofo dividiu conhecimentos em economia e ecologia – e frisou a importância do olhar para todos os stakeholders

  • 19/04/2024
  • Victor Santos
  • Eventos

A manhã do dia 19 de abril foi de aprendizado no IBGC, com a masterclass Uma conversa com Satish Kumar - Autotransformação para uma liderança de impacto. Promovida pela Comunidade ESG do instituto, ocorreu de forma híbrida, na sede do IBGC em São Paulo (SP) e também on-line.

Satish Kumar se tornou reconhecido em todo o planeta no período da Guerra Fria, na década de 1960 – quando percorreu 13 mil km pela paz, a pé e de barco, num trajeto que passou por Moscou, Paris, Londres e Washington. Autor renomado e educador, lançou no início dos anos 1990 o Schumacher College, espaço de estudos ecológicos com foco em impulsionar habilidades e o pensamento estratégico e holístico necessários para encarar os desafios deste século.

Na abertura da masterclass, os coordenadores da Comunidade ESG, Beatriz Pacheco e Ricardo Young, frisaram a relevância da presença do ativista no Brasil – e logo passaram a palavra para ele. Confira os principais destaques:

Equilíbrio entre economia e ecologia
Um dos pontos-chave trazidos pelo filósofo, e que conduz as atividades do Schumacher College, é o de que o mundo precisa abandonar o pensamento puramente econômico que norteia praticamente todos os países, e buscar um equilíbrio entre economia e ecologia. Para desenvolver essa ideia, Satish recorreu à etimologia das duas palavras.

Segundo ele, a origem do termo economia é grega – o prefixo “eco” vem de oikos, que significa “nossa casa”; e o sufixo “nomia” vem de nómos, que o filósofo traduziu como “administração”. Assim, prosseguiu ele, a palavra economia consiste na administração de todo o planeta – já que para a Grécia Antiga, todo o planeta era considerado como “nossa casa”. No entanto, o ativista frisou que não é esse o significado que predomina atualmente, já que vinculamos economia a tópicos como plano de negócios, balanços financeiros, planilhas e temas correlacionados.

Desse modo, o caminho para superarmos essa mentalidade seria o de incluir a ecologia na dinâmica – e usando a etimologia para exemplificar, demonstrou que essa palavra conta com o mesmo prefixo ‘eco’, e termina com ‘logia’, que na origem grega significa “conhecimento”, ou seja, “conhecimento do nosso planeta/casa”. E cercado por uma plateia de líderes, reforçou: “Se você deseja administrar algo, precisa ter conhecimento a respeito disso. A ecologia é conhecimento, e a economia é a gestão de todo o planeta, que é a nossa casa”.

Um olhar para a natureza e para a colaboração
Ainda na perspectiva ecológica, Satish buscou desconstruir a ideia de que seres humanos e natureza são instâncias separadas – pelo contrário: além de estarmos integrados, vale também deixar de lado as concepções de que somos, de alguma forma, superiores à natureza, e ainda, parar de vê-la como algo morto, entendendo-a definitivamente como um organismo vivo.

Grande apreciador das mangas brasileiras, o ativista recorreu ao fruto para uma analogia, que classificou como mango economy (economia da manga, em tradução livre). “Por que eu fiz esta referência? Porque precisamos ver a economia como se fosse um pé de manga. De uma semente que plantamos no solo, talvez em cerca de um ano, já temos um pé carregado de galhos, folhas e frutos” - analisou - “e temos nesse contexto sol, chuva, oceanos, e mesmo agricultores e outros profissionais – todos esses elementos trabalhando em colaboração, e não numa competição". É nisso que os líderes devem se espelhar, segundo o filósofo: no trabalho colaborativo que leva um pé de manga a nascer, crescer e gerar tantos e tantos frutos.

Os quatro stakeholders
Amor Radical é o título do livro de Satish Kumar recém-lançado no Brasil – em que o autor salienta que o amor se relaciona a um ato de escolha, idealmente feita com propósito, organização e clareza. Em sua masterclass no IBGC, ele discorreu sobre isso. “A falta de amor criou muitos dos problemas na nossa sociedade”, comentou, “Todos precisam amar a si mesmos e amar a natureza, mas no mundo atual, vemos muita competição, burnout… Se um homem ou mulher de negócios não está feliz, há algo errado em seu negócio”.

Para ajudar nessa missão de incorporar o amor radical no seu dia a dia como líder, o filósofo elenca quatro stakeholders que precisam de um olhar atento.

● Natureza – é importante separar parte do lucro para cuidar do meio ambiente.
● Sociedade – seus clientes e consumidores compõem essa sociedade, então é necessário que parte do lucro apoie a sociedade onde vivemos, por exemplo, impulsionando projetos ligados a questões ambientais e de direitos humanos.
● Funcionários da sua empresa – é essencial cuidar das pessoas que trabalham para você, que merecem reconhecimento inclusive em participação nos lucros.
● Investidores – aqui, a relação é mais direta: investidores e acionistas precisam de retorno, sem retorno eles não investirão, e o seu negócio não irá adiante.

COP-30, empresas familiares e como fortalecer o amor radical
Ao final, o público presente na sede do IBGC e on-line pôde fazer perguntas ao especialista – e entre os destaques dessa troca, Satish enfatizou o peso que será ter o Brasil como sede da COP-30 (Conferência das Partes sobre mudanças climáticas, da Organização das Nações Unidas (ONU)), que ocorrerá em 2025, em Belém (PA). “A COP-30 é uma oportunidade de demonstrar a mango economy pelo mundo. O Brasil tem tudo: rios, florestas, pessoas, talentos, cultura… usem isso para todos, e não apenas para poucos”.

Além disso, o filósofo tranquilizou famílias empresárias, dizendo que quando falamos dessas novas perspectivas, não estamos falando em desrespeitar tradições ou destruir legados familiares. “Na verdade, estamos falando em criar algo novo”, destacou, “Então, eu agradeço aos meus familiares por construírem este negócio, e agora temos novas perspectivas – e nosso legado será criar algo novo e deixar um bom trabalho para as gerações futuras”.

Por fim, quando questionado se o amor radical consiste em algo utópico demais, Satish concluiu de maneira pragmática: “É preciso refletir: como posso trazer um pouco de amor radical ao meu negócio, à minha comunidade, ao meu país? Ninguém é perfeito, livre de raiva, ansiedade, ciúme, mas o amor é que norteia essa jornada. O amor radical começa com um passo de cada vez, todos os dias”.


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