“A COP30 será uma oportunidade única para conectar as agendas de clima, natureza e sociedade”

Citação é de Marina Grossi, presidente do CEBDS, em bate-papo sobre COP30, Acordo de Paris e ESG

  • 28/04/2025
  • Victoria Andrade
  • Bate-papo

A COP30, primeira a ser realizada no Brasil e na Amazônia, acontece entre 10 e 21 de novembro deste ano em Belém (PA). A importância da conferência para o momento atual de emergência climática mundial carrega um grande simbolismo para as futuras rotas do desenvolvimento sustentável.

Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), participará da COP30 e conversou como Blog IBGC sobre essa e outras pautas relevantes para este ano. Confira abaixo.

BLOG IBGC: Em 2025 completamos 10 anos do Acordo de Paris e 4 anos da implantação do Chapter Zero Brazil. Você notou alguma evolução considerável na postura das empresas ao longo desse período?

Marina Grossi:
Nos últimos anos, houve uma evolução significativa na postura das empresas em relação ao desenvolvimento sustentável, que hoje faz parte da estratégia corporativa e da agenda da alta liderança. O crescimento do CEBDS reflete essa mudança, com 120 grandes empresas associadas e um envolvimento cada vez maior de CEOs e diretores em práticas ESG, ações de advocacy e eventos globais.

Na COP16 de Biodiversidade, por exemplo, a delegação do CEBDS contou com 73 representantes de 43 empresas, sendo uma das mais relevantes da América Latina, com forte participação de líderes empresariais.

Além disso, o setor privado tem se posicionado ativamente na formulação de políticas climáticas, como na contribuição para a nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira. Desde o ano passado, temos mobilizado nossas associadas na discussão da nova NDC, construindo uma série de documentos e promovendo encontros com representantes-chave do Poder Público, como a secretária nacional de Mudança do Clima e diretora executiva da COP30, Ana Toni, e vemos o quanto as empresas estão engajadas nessas discussões.

O Chapter Zero Brazil, por meio do IBGC, também tem desempenhado um papel essencial ao engajar conselheiros e lideranças empresariais no enfrentamento das mudanças climáticas, promovendo o diálogo e a troca de boas práticas. O setor privado é fundamental para que o Brasil possa alcançar suas metas climáticas, e está disposto a contribuir ativamente para isso.

Qual é a importância do engajamento de conselheiros em iniciativas como o Chapter Zero Brazil?

O engajamento dos conselheiros em iniciativas como a de vocês do IBGC é fundamental para impulsionar a agenda ESG dentro das empresas, pois são eles que fornecem a dimensão estratégica necessária para a adoção de práticas sustentáveis. As empresas, especialmente as de capital aberto, enfrentam demandas crescentes em ESG, diversidade e inclusão, e a sustentabilidade já é um fator de competitividade e perenidade.

No CEBDS, também buscamos constantemente o envolvimento da alta liderança empresarial. Entre nossas iniciativas neste sentido está o Conselho de Líderes, formado majoritariamente por CEOs das empresas associadas, e que tem um papel fundamental no diálogo entre o setor empresarial, o Poder Público e a sociedade civil. Temos ainda uma série de ações em parceria com atores globais como o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), do qual somos o braço brasileiro, e a We Mean Business Coalition (WMBC), para engajar lideranças empresariais não só do Brasil, mas de todo o mundo. Um exemplo de iniciativa global é o nosso COP30 CEO Action Advisory Board, com 50% de CEOs nacionais e 50%, internacionais, que têm buscado construir soluções para colaborar com o sucesso da COP30 e a construção de um legado do evento.

Esse engajamento fortalece a capacidade das empresas de responder aos desafios climáticos e ambientais de forma estratégica e eficaz.

Vivemos um momento de grande evolução tecnológica com desenvolvimento de, por exemplo, IA, Big Data e Realidade Virtual. Como essa evolução pode contribuir para uma governança mais sustentável?

A revolução tecnológica pode equacionar muitos dos desafios que enfrentamos para colocar em prática a visão de futuro que projetamos para o Brasil. Mas, ao mesmo tempo, existem muitas incertezas referentes ao uso de ferramentas como a inteligência artificial. Se bem utilizado, esse recurso pode trazer agilidade e assertividade para processos, mas, se mal utilizado, pode causar grandes prejuízos.

Vivemos, atualmente, o momento em que as respostas sobre a eficácia desse tipo de tecnologia virão à tona. As decisões e formas de uso da tecnologia que fizermos hoje indicarão a rota que tomaremos no futuro.

Vale destacar que temos, hoje, exemplos muito positivos, que incluem drones na Amazônia ajudando no combate ao desmatamento, inteligência artificial e aprendizado de máquina, proporcionando o uso mais eficiente de recursos naturais. Temos também uma iniciativa muito interessante da UNFCCC para desenvolvimento de um sistema de inteligência artificial para propor medidas de adaptação em diferentes territórios, o Technology Mechanism Initiative on AI for Climate Action. Todos esses exemplos mostram que as novas tecnologias podem contribuir para a conservação de solos, florestas e restauração de áreas, além de facilitar a rastreabilidade ao longo das cadeias de valor.

De que forma a COP deste ano pode influenciar nos comportamentos das empresas?

A COP30 no Brasil será uma oportunidade única para reforçar a conexão entre as agendas de clima, natureza e sociedade, além de impulsionar soluções concretas para desafios como financiamento climático, adaptação e justiça climática. Mais do que compromissos, a conferência precisa acelerar a implementação de ações transformadoras – e as empresas têm um papel fundamental nesse processo.

Cada vez mais, as COPs deixam de ser apenas espaços de negociações diplomáticas e passam a ser plataformas para ações escaláveis e mensuráveis. A chamada Agenda de Ação, promovida pelas presidências das COPs, busca exatamente trazer visibilidade para iniciativas concretas que já estão em andamento. O Brasil, como anfitrião da COP30, tem uma grande oportunidade de mostrar e ampliar o impacto das soluções inovadoras já implementadas pelas empresas.

Nesse contexto, o setor empresarial brasileiro já está mobilizado, fortalecendo o diálogo com o governo, os estados da Amazônia Legal e entidades empresariais globais. No CEBDS, nossas prioridades incluem descarbonização, bioeconomia e sistemas agroalimentares regenerativos – temas que podem consolidar o Brasil como um líder global na transição para uma economia de baixo carbono.

Quais são as expectativas para a COP deste ano? Que tipo de decisões e novidades podemos esperar dessa conferência e como isso pode influenciar o Chapter Zero Brazil?

A COP30 será uma oportunidade para que o setor empresarial reforce seu compromisso com a ambição climática e avance em uma agenda de ação estruturada.

Além disso, por ser a primeira COP no Brasil e na Amazônia, ela carrega um forte simbolismo. O país, que possui uma matriz energética predominantemente renovável e abriga a maior floresta tropical do mundo, tem o potencial de liderar a definição de metas mais ambiciosas para o enfrentamento da crise climática, com foco na redução de emissões, preservação da biodiversidade e transição energética sustentável. Além disso, espera-se que o Brasil desempenhe um papel estratégico como mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, promovendo justiça climática e inclusão social.

Com a visibilidade global da COP30, o Brasil tem uma plataforma sem precedentes para impulsionar ações climáticas ambiciosas. Esse é o momento de fortalecer a colaboração entre empresas e governo para a implementação da nova NDC e a implementação de soluções efetivas.

Esse cenário representa um ponto de inflexão para empresas e lideranças, especialmente para conselheiros de administração, que terão um papel cada vez mais relevante na condução da agenda ESG. A COP30 pode amplificar o papel do Chapter Zero Brazil como referência na formação e engajamento dessas lideranças, consolidando sua atuação no suporte à governança climática corporativa.

Segundo a carta do presidente da COP30, esta é a primeira conferência a ocorrer no epicentro da crise climática e a primeira a ser sediada na Amazônia, que corre o risco de ponto de inflexão irreversível. Como as empresas podem se preparar para enfrentar esse momento e o que podem fazer para amenizar essa realidade?

Sem parcerias estratégicas, não há soluções de grande impacto. E o recrutamento dos "non-state actors" destacado no texto, ou seja, atores-chave como empresas e instituições financeiras – têm um papel essencial nesse processo.

O presidente da COP 30, André Corrêa do Lago, detalhou na carta que a construção de convergências é fundamental para garantir que soluções sustentáveis alcancem escala.

O CEBDS já está nessa direção, atuando para representar o setor empresarial brasileiro e conectar iniciativas público-privadas nacionais e globais, que acelerem a implementação de projetos financiáveis, e para mostrar soluções tecnológicas já implementadas que podem ser replicadas.

Somente com multilateralismo e engajamento de todos os atores – governos nacionais e subnacionais, setor privado, instituições financeiras e academia – seremos capazes de reverter o curso da crise climática e construir um caminho sustentável para o futuro.

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