Inteligência Artificial no âmbito do conselho de administração

O papel do conselho frente às questões de IA: estratégia, pessoas e gerenciamento de riscos corporativos

  • 19/11/2024
  • Membros das comissões: Conselho de Administração, Estratégia e Gerenciamento de Riscos Corporativos
  • Artigo

A Inteligência Artificial (IA) está transformando rapidamente diversos setores e oferece oportunidades significativas para as empresas. Ao mesmo tempo, ela gera mais perguntas do que respostas nas organizações, com desafios relacionados a estratégia corporativa, gestão de talentos e gerenciamento de riscos.

O conselho de administração deve orientar e supervisionar essas questões, para que as organizações possam aproveitar os benefícios da IA e mitigar ameaças. Os conselheiros devem estar atentos às tendências e às mudanças regulatórias sobre o tema para que a empresa esteja sempre à frente em termos de inovação tecnológica e conformidade legal.

O objetivo deste artigo é incitar os conselheiros a buscarem mais informações sobre essa tecnologia, já que a responsabilidade final pelas implicações da IA transcende o corpo executivo e requer atenção do conselho.

Tese
O CA o deve adotar uma abordagem para alinhar as iniciativas de IA com os objetivos corporativos, para promover um ambiente de trabalho inclusivo e atender exigências regulatórias e éticas – tendo em vista a própria Licença Social para Operar da organização.

Desenvolvimento

Estratégia
O papel do conselho de administração na definição da estratégia de IA é integrar a tecnologia aos planos de longo prazo das organizações. O Conselho deve assegurar que a estratégia de IA esteja alinhada com os valores e a missão da organização, para promover seu crescimento sustentável e responsável segundo critérios claros.

Uma pesquisa conduzida pelo BCG – AI Radar – revelou que mais de 70% dos executivos entrevistados planejam aumentar seus investimentos em tecnologia, com a Inteligência Artificial (IA) entre as prioridades. No entanto, ainda faltam especialistas e lideranças dedicadas à IA, tanto nas equipes de gestão e nos conselhos das organizações. As prioridades de investimento também não são claras.

A governança corporativa deve estar preparada para abordar esse tema. Os conselheiros devem ser capacitados para apoiar a gestão e liderar o processo estratégico, considerando cenários futuros, modelos de negócio e execução alinhados às novas exigências da IA.

A cultura organizacional deve estar aberta à inovação e à implementação de estratégias focadas em IA, que devem ser avaliadas como oportunidades para melhorias em eficiência operacional, desenvolvimento de novos produtos e serviços, e aprimoramento da experiência do cliente.

A criação de comitês com especialistas em IA pode fornecer insights e recomendações para que a estratégia esteja sempre alinhada com as melhores práticas e necessidades da organização.

Pessoas
A implementação eficaz da IA nas empresas vai além da adoção de tecnologias. Ela requer uma abordagem que considere o impacto humano e organizacional dessa transformação, que deve envolver:

● Educação e treinamento contínuo: investir em programas de educação e treinamento para que colaboradores, gestores e a alta liderança adquiram as habilidades necessárias para usufruir dos benefícios da IA.
● Gestão de mudanças e comunicação: preparar a organização para mudanças estruturais, redefinindo papéis e criando funções que surjam com a adoção da IA. Além disso, é necessário manter uma comunicação aberta e transparente sobre como a IA está sendo implementada e como isso atinge todas as partes – colaboradores, consumidores, parceiros, fornecedores, comunidades afetadas.
● Cultura de inovação e aprendizado: promover uma cultura organizacional que valorize inovação, criatividade e aprendizado contínuo é essencial para gerar valor com as novas tecnologias. Isso pode ser alcançado por meio de incentivos, reconhecimento e desenvolvimento profissional.
● Uso ético e responsável: estabelecer princípios éticos para o uso da IA e assegurar, por meio de comunicação contínua e eficaz, que todos estejam cientes desses princípios, promovendo práticas inclusivas e a diversidade na força de trabalho.

O conselho de administração deve atuar para que a empresa adote a IA de maneira responsável e ética, investindo no capital humano para criar um ambiente de trabalho resiliente e adaptável. A equipe, incluindo a gestão e os próprios conselheiros, deve ser continuamente capacitada sobre a tecnologia e a legislação pertinente.

Gerenciamento de riscos corporativos
Sistemas de IA podem tanto ajudar na identificação precoce de crises como ser fonte delas, como, por exemplo, por disseminação de conteúdo falso ou equivocado.

É essencial estabelecer uma governança robusta para a IA que garanta salvaguardas éticas como privacidade, transparência, segurança e imparcialidade. As soluções devem estar alinhadas com os valores da organização e, ao investir em parcerias para a adoção da IA, é fundamental assegurar que fornecedores sigam preceitos éticos alinhados aos da organização.

Do ponto de vista dos conselheiros, o uso da IA apresenta riscos substanciais:
● Governança inadequada: sem uma estrutura robusta, a IA pode gerar decisões desalinhadas com a ética corporativa ou objetivos estratégicos. É crucial que a implementação siga políticas claras, com regras definidas para sua utilização.
● Responsabilidade legal e regulatória: a IA pode recomendar decisões que, se não monitoradas, podem infringir leis, resultando em penalidades significativas. Conselheiros devem assegurar que a IA seja usada em conformidade com as normas legais.
● Viés algorítmico: algoritmos de IA podem perpetuar preconceitos, prejudicando a reputação da empresa e resultando em ações legais. Conselheiros devem promover auditorias regulares para mitigar esses vieses.
● Risco cibernético: a introdução de IA aumenta a vulnerabilidade a ataques cibernéticos. É responsabilidade dos conselheiros assegurar que as medidas de segurança cibernética sejam robustas para proteger a empresa contra essas ameaças.

Para aproveitar o potencial da IA, os conselheiros devem assegurar que a empresa disponha de políticas claras, processos robustos e profissionais qualificados para gerenciar a tecnologia.

As soluções devem promover crescimento sustentável da organização e sua inovação contínua, sempre em conformidade com a lei, assegurando a resiliência da empresa.

Conclusão e recomendações
Hoje, a IA é um dos principais motores da transformação digital nas organizações e no mundo. Para que possam de fato contribuir com os debates sobre a Inteligência Artificial, os conselheiros precisam refletir sobre as seguintes questões:

● Qual o papel do conselho e quais competências precisa desenvolver para fomentar as iniciativas de IA?
● Como a IA se alinha com a missão e os valores da organização?
● Como a empresa está promovendo uma cultura de inovação e capacitando a equipe para trabalhar com IA?
● Como lidar com os impactos potenciais da IA na força de trabalho e como se preparar para essas mudanças?
● Como a empresa pretende tratar com o impacto da IA em suas comunidades e em seus stakeholders, cumprindo sua função social?
● Como assegurar que a organização estará apta promover a segurança cibernética na adoção da IA?

Ao considerar a adoção de soluções de IA, os conselhos de administração devem focar em:
● Estratégia.
● Pessoas.
● Gerenciamento de riscos.

Dessa forma, poderão assegurar que a IA promova crescimento sustentável e inovação contínua da empresa, de maneira alinhada à legislação aplicável e aos princípios da organização.


Sobre os autores: Glória Guimarães, Helder de Azevedo, Jorge Secaf, Paulo Soares, Claudia Pagnano, Heloisa Rios, Alex Borges, Gianfranco Muncinelli, Tania Magalhães, Clarice Martins Costa, Luciana Esposito, Marcelo Godinho e Marco Antonio Santana são membros das Comissões de Conselho de Administração, Estratégia, Gerenciamento de Riscos Corporativos e Pessoas do IBGC. Este artigo foi escrito no âmbito do projeto #412 – “O Papel Estratégico do Conselho de Administração na Governança da Inteligência Artificial”.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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