“Mudanças climáticas tornam ambiente de negócios mais desafiador”

Declaração é de João Redondo, instrutor de cursos do instituto que tem trabalhado na Semana de Governança Climática do IBGC

  • 30/06/2025
  • Victoria Andrade
  • Bate-papo

O meio ambiente nunca esteve tão presente nas agendas dos conselhos de administração. Em um ano marcado pela COP30 no Brasil, por manifestações de entidades ambientais e outros marcos importantes, compreender e engajar essa pauta é essencial para avançarmos rumo a uma governança verdadeiramente sustentável.

João Redondo, instrutor de cursos do IBGC, dá mais detalhes sobre a importância desse tipo de debate no ambiente de negócios em bate-papo para o blog e fala sobre a Semana de Governança Climática, iniciativa do instituto com o Chapter Zero Brazil que tem como objetivo preparar líderes e organizações para atuarem com responsabilidade e protagonismo diante das transformações globais. Confira abaixo.

BLOG IBGC: Como funcionará a Semana da Governança Climática? O que podemos esperar e quais são os objetivos do evento?

João Redondo: Em um ano marcado pela crescente atenção global ao tema das mudanças climáticas — especialmente diante da realização da 30ª Conferência das Partes (COP30), que ocorrerá no Brasil — torna-se ainda mais relevante aprofundar o debate sobre os impactos dessa agenda no ambiente de negócios.

Diversas organizações, em especial de setores expostos ao comércio internacional, vêm enfrentando desafios relacionados a barreiras não tarifárias e exigências crescentes quanto à gestão das emissões de gases de efeito estufa (GEE) nos mercados em que atuam. Ao mesmo tempo, o Brasil tem avançado em medidas importantes, como a regulamentação do mercado de carbono, entre outras iniciativas com potencial de transformar práticas corporativas e políticas públicas.

Qual é a importância desse tipo de aprendizado para o ambiente de governança corporativa em um mundo tão fragilizado em termos de geopolítica?

Diante dos crescentes desafios impostos pelos efeitos das mudanças climáticas à sociedade global — seja em razão da intensificação de eventos climáticos extremos, seja pelas alterações nos ecossistemas que impactam diretamente a dinâmica econômica mundial — o ambiente de negócios torna-se cada vez mais complexo e desafiador.

O Relatório Global de Riscos 2025, publicado pelo World Economic Forum (WEF) — amplamente acompanhado pelo setor empresarial — destaca que, entre os dez principais riscos identificados por lideranças globais, cinco estão diretamente relacionados a questões ambientais, com especial ênfase nas mudanças climáticas. Esse dado reforça a urgência da incorporação sistemática da variável climática na gestão estratégica das organizações.

Nesse contexto, é papel do Conselho de Administração, no exercício de suas atribuições de supervisão, assim como dos demais órgãos de governança corporativa, avaliar o grau de exposição da organização aos riscos climáticos. Cabe ainda acompanhar as medidas adotadas para mitigá-los, assegurando que a empresa esteja preparada para enfrentar tais desafios de forma resiliente. Paralelamente, à administração executiva compete identificar e explorar oportunidades que possam emergir dos novos cenários climáticos, promovendo a adaptação e a inovação nos modelos de negócio.

É importante reconhecer que cada organização e setor econômico possui níveis distintos de exposição a riscos climáticos, o que demanda abordagens específicas, alinhadas à realidade de suas operações e cadeias de valor.

Apesar dos avisos feitos por cientistas e ambientalistas há décadas, uma recente pesquisa realizada pelo IBGC aponta que desastres ambientais e mudanças climáticas ainda estão entre os temas que não são amplamente discutidos em conselho. Como podemos mudar essa postura frente a uma realidade quase irreversível?

O debate sobre mudanças climáticas remonta a várias décadas, com maior estruturação e articulação internacional a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992. Como parte de um processo democrático e plural, o tema é marcado por divergências entre diferentes correntes de pensamento — o que não invalida, mas enriquece a construção coletiva do conhecimento e das políticas públicas.

No Brasil, essa discussão tem sido conduzida com qualidade e profundidade há mais de 25 anos, refletindo os avanços e desafios do cenário global. Um dos pontos positivos mais notáveis é a presença crescente do tema nas pautas dos Conselhos de Administração, ainda que, muitas vezes, se questione a velocidade dessa incorporação frente ao senso de urgência que a crise climática impõe.

Há um interesse cada vez maior por parte de conselheiros e conselheiras em ampliar seu repertório sobre mudanças climáticas, demonstrando abertura para compreender os impactos e riscos associados ao tema no contexto da governança corporativa. No entanto, a experiência com diferentes conselhos ao longo dos anos, especialmente no âmbito da sustentabilidade, revela a necessidade de um fortalecimento mais sistemático na capacitação de seus membros.

Em geral, as discussões ainda se concentram nos pilares tradicionais das boas práticas de governança. Embora relevantes, esses temas precisam ser complementados por uma abordagem mais integrada das questões ambientais, sociais e climáticas. É importante ressaltar que cada organização se encontra em um estágio distinto de maturidade na agenda ESG, o que requer respeito à sua trajetória e contexto específico.

As motivações para o engajamento também variam: algumas empresas atuam em setores altamente pressionados por serem grandes emissores de gases de efeito estufa, enquanto outras operam em mercados em que as exigências regulatórias e sociais em relação ao clima já estão relativamente consolidadas. Em ambos os casos, a agenda climática demanda atenção estratégica, visão de longo prazo e governança qualificada.

Como os participantes podem se manter engajados em temas de ESG e mudanças climáticas para além do ambiente de aprendizado?

Cada participante possui motivações próprias para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema. Diferentemente do que ocorria no passado, hoje há uma ampla gama de referências estruturadas e complementares que permitem uma abordagem mais abrangente e qualificada da agenda climática.

Estão disponíveis diversos cursos e programas especializados que oferecem oportunidades para o aprendizado de metodologias voltadas à mensuração de emissões, à implementação de práticas eficazes de mitigação e redução, ao aprofundamento em temas como créditos de carbono e às estratégias de financiamento climático e identificação de oportunidades associadas.

Além disso, os participantes têm acesso a um volume crescente de estudos, pesquisas e relatórios técnicos, publicados de forma periódica por organizações nacionais e internacionais, que oferecem dados atualizados, análises de cenários e recomendações práticas.

No contexto do engajamento empresarial, destacam-se também as iniciativas coletivas — fóruns, alianças setoriais e redes colaborativas — que desempenham um papel importante no apoio às organizações, permitindo que avancem de maneira mais estruturada e alinhada com as melhores práticas em mudanças climáticas e sustentabilidade corporativa.

Para ficar por dentro das agendas da semana, veja abaixo a programação:

Dia 01/07 - Tema: Governança Climática na Prática: COP, acordos e o plano clima brasileiro

Dia 02/07 - Tema: Caminhos do Financiamento Climático: de fundos internacionais a green bonds e créditos de carbono

Dia 03/07 - Tema: Mercado de Carbono no Brasil e no Mundo: como funciona e por que importa

Dia 04/07 - Tema: Governança para Adaptação Climática: riscos, oportunidades e respostas Financeiras

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