Professor de finanças e diretor de dois centros de pesquisa na Escola de Economia e Gestão da Universidade Tsinghua, em Pequim, Ping He é presença confirmada no segundo dia do 26º Congresso IBGC.
Ping He tem contribuído com pesquisas de impacto sobre temas como desregulamentação de IPOs, estrutura de propriedade de empresas chinesas e o papel do governo no mercado de capitais. Seu foco de estudos tem sido política monetária, instituições bancárias e macrofinanças.
Além de sua atuação acadêmica, Ping He é reconhecido por sua participação em debates sobre o crescimento econômico da China e os desafios da re-globalização, sendo frequentemente convidado para palestras e programas executivos voltados à compreensão da economia chinesa em transformação.
Ao Blog IBGC, ele destacou suas percepções sobre a governança corporativa na China, a diplomacia do país e contou um pouco sobre seu olhar para o contexto brasileiro. Confira o bate-papo a seguir:
BLOG IBGC: Como a China está mudando sua estratégia para desempenhar um papel maior na governança global e nas instituições internacionais?
Ping He: A estratégia da China para ampliar sua atuação na governança global e nas organizações internacionais é abrangente, proativa e construtiva. O governo chinês defende o multilateralismo, promove a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade, participa ativamente do trabalho de organizações internacionais como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e a Organização Mundial da Saúde, e advoga por uma ordem internacional mais justa e razoável. Iniciativas e conceitos propostos pela China, como a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), oferecem sabedoria e soluções chinesas para a governança global, recebendo amplo reconhecimento e respostas positivas da comunidade internacional. A China continuará a colaborar com outros países para enfrentar desafios globais e promover a paz e o desenvolvimento mundial.
Nesta linha, como a diplomacia chinesa difere da abordagem ocidental?
A China sempre adotou uma política externa de desenvolvimento pacífico, sustentando uma estratégia aberta de benefício mútuo e ganhos compartilhados, comprometida com a construção de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade. Em comparação com os países ocidentais, a China enfatiza mais os princípios de igualdade, respeito mútuo e não interferência nos assuntos internos, opondo-se a todas as formas de hegemonismo e política de poder. O caminho de desenvolvimento e as práticas diplomáticas da China demonstram que diferentes sistemas sociais e países podem alcançar o desenvolvimento comum por meio do diálogo e da cooperação.
Quais são três características-chave da governança corporativa que você apontaria brevemente no contexto chinês?
Eu listaria três principais. Primeiro, o papel predominante do Partido Comunista da China (PCC) na governança corporativa. Comitês do partido estão presentes em praticamente todas as empresas estatais e em um número crescente de grandes empresas privadas. Para decisões importantes relacionadas à estratégia, investimentos e nomeações de alto nível, o Comitê do Partido realiza estudos e discussões antes que o conselho de administração se reúna para a votação formal. Isso confere ao partido um poder de veto de fato e garante que a estratégia corporativa esteja alinhada com os objetivos das políticas nacionais.
Depois, citaria a propriedade concentrada e papel relativamente fraco dos investidores institucionais e do mercado de capitais na governança. Em comparação com os mercados do Reino Unido e dos Estados Unidos, os investidores institucionais na China (como fundos e seguradoras) exercem um papel limitado de supervisão e contrapeso na governança corporativa. Mecanismos externos de governança de mercado, como aquisições hostis e disputas por procuração, exercem pouca pressão sobre a gestão.
Por último, cito as redes de relacionamento e regras informais na tomada de decisão corporativa. No ambiente empresarial chinês, embora existam regras formais, o relacionamento baseado em confiança, conexões pessoais e reciprocidade desempenham papel crucial na obtenção de recursos, oportunidades de negócios e resolução de conflitos, muitas vezes superando as regras institucionais formais.
Falando um pouco sobre o Brasil, quais são os principais desafios e lições que você já identificou sobre o contexto econômico brasileiro?
Os desafios do desenvolvimento econômico do Brasil envolvem uma rede complexa de questões inter-relacionadas. A "desindustrialização" resultou em uma estrutura econômica frágil, enquanto a infraestrutura subdesenvolvida, os elevados "custos Brasil" (tributários, trabalhistas e jurídicos) e um sistema educacional deficiente aprofundam essa fragilidade. A instabilidade política e a incerteza nas políticas públicas dificultam os esforços de reforma voltados para enfrentar esses problemas fundamentais, enquanto o alto endividamento público limita a capacidade de ação do governo. Apesar desses desafios, o Brasil possui vantagens significativas, como vastas terras agricultáveis, abundância de recursos naturais, um mercado interno em expansão e um sistema democrático ativo.
O 26º Congresso IBGC ocorre em 8 e 9 de outubro, no WTC Events Center, em São Paulo. O debate amplificado com Ping He você confere no painel “
China no centro do novo tabuleiro global”, no dia 9 de outubro, às 9h05. Os ingressos presenciais estão quase esgotados e há vagas na modalidade on-line. Adquira seu ingresso
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