Capital é decisão e poder

Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, etapa da COP30, é tema de artigo sobre crise climática

  • 26/05/2025
  • Daniela Klein e Adriano Salvi
  • Artigo

O centro da crise climática está nos extremos climáticos e nas planilhas, nos relatórios trimestrais, nas análises de risco que ignoram realidades inteiras. Ou seja, forma como o capital é alocado continua sendo um fator decisivo para a manutenção da desigualdade e da degradação. E quem escolhe para onde vai o dinheiro escolhe, no fim das contas, quem sobrevive e quem perde o futuro.

O setor financeiro opera, em grande parte, sob a ilusão da neutralidade. Modelos são considerados técnicos, como se não partissem de critérios definidos por alguém, mas há uma disputa silenciosa embutida em cada decisão de investimento, que raramente inclui os territórios, os saberes, os corpos e os modos de vida que mais precisam de resiliência.

Há quem ainda trate finanças sustentáveis como um subproduto da agenda ambiental, como um ajuste cosmético. Mas não há sustentabilidade sem enfrentar a estrutura que decide o que é risco, o retorno e o simplesmente descartável. Esse enfrentamento exige outras vozes, presenças e uma nova escuta institucional.

Pensando assim, quando o presidente da maior gestora de ativos do país, o gerente da principal plataforma de finanças sustentáveis da América Latina e uma das maiores lideranças indígenas do mundo sentam para falar sobre futuro, certamente o desconforto é inevitável. Porém, é justamente desse desconforto que temos urgência, pois dele nasce os deslocamentos necessários.

Por isso é tão simbólico o que vai acontecer durante a Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, que será realizada em Vitória (ES) de 11 a 14 de junho, e, especialmente, no dia 12 de junho, quando Denísio Liberato, presidente da BB Asset, Fernando Campos, gerente da Sitawi, e Almir Suruí, liderança do povo Paiter Suruí, aceitaram estar juntos em um dos encontros mais marcantes da agenda.

E este é um dos painéis que prometem quebrar paradigmas. Outras mesas também reunirão grandes nomes da economia, da ciência e das políticas públicas, em busca de caminhos possíveis para redesenhar o papel do capital. Afinal, se a transição climática continuar sendo desenhada a portas fechadas, por quem sempre esteve do mesmo lado da mesa, continuaremos apenas adaptando a catástrofe.

O que se vê agora é o início de uma inflexão que começa a se reconfigurar, com a entrada de agentes que até pouco tempo sequer eram considerados stakeholders. Lideranças comunitárias, representantes de povos originários, pesquisadores de campo, especialistas em governança territorial começam a ganhar voz em discussões sobre crédito, infraestrutura, inovação e gestão de ativos.

Iniciativas como a trilha de Finanças da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025 não resolvem o problema, mas sinalizam uma tentativa real de provocar os critérios e os rituais do sistema. Quando uma conferência climática oficial reconhece que capital também é território, e que nem todo valor cabe em benchmark, um espaço político se abre.

A transformação não virá da linguagem dos relatórios. Virá da coragem de reformular o centro de gravidade das decisões. Não é sobre quanto custa. É sobre quem decide.

Daniela Klein é jornalista, especialista em ESG e líder de curadoria da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, etapa COP 30.

Adriano Salvi é coordenador do Núcleo Espírito Santo do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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