No Brasil, 90% das empresas têm perfil familiar, de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Um outro levantamento, desta vez do Banco Mundial, revela que 30% das empresas familiares chegam até a terceira geração e apenas metade delas sobrevive.
Quais os desafios das empresas familiares, do ponto de vista societário e de governança? Como funciona a governança nesse tipo de empresa? Qual o melhor momento para se falar em sucessão?
Para conversar sobre o tema e responder a estes questionamentos, o Blog IBGC conversou com o conselheiro de administração e especialista em sucessão e governança de empresas familiares, Prof. Alexis Novellino, instrutor no curso
Governança Corporativa em Empresas Familiares, oferecido pelo instituto.
Blog IBGC: No que difere a governança de uma empresa familiar de outros modelos empresariais?
Alexis Novellino: A governança corporativa em empresas familiares difere significativamente de outros modelos empresariais devido à intrínseca interdependência entre as esferas familiar, patrimonial-societária e empresarial. Esta interdependência afeta não só as decisões empresariais como também a própria relação familiar.
Mesmo quando membros da família não estão ativamente envolvidos na gestão diária, sua influência e valores permeiam as decisões estratégicas e operacionais; e as configurações e relações familiares atuais irão influenciar as relações societárias futuras.
Ilustrando, uma empresa familiar originada por um fundador com dois filhos provavelmente se tornará, na geração seguinte, uma sociedade entre dois irmãos. Uma empresa que possui um único sócio controlador, no caso do fundador, difere substancialmente, em termos de governança, de outra com uma sociedade que possui dois sócios, especialmente se for uma sociedade meio-a-meio, onde nenhum dos dois tem o controle, e todas as decisões principais são compartilhadas. Isso contrasta com empresas não familiares, onde a governança tende a ser mais objetiva, focada exclusivamente nos interesses corporativos e retornos de capital, sem as complexidades adicionais das relações familiares.
Poderia citar prerrogativas de uma empresa familiar?
Se, por um lado a empresa familiar traz desafios do ponto de vista societário e de governança, por outro, oferece potenciais vantagens, como, por exemplo, a visão de longo prazo e um maior cuidado com as relações com seus stakeholders – funcionários, fornecedores, clientes, parceiros e comunidade.
Desta forma, eu ousaria afirmar que as empresas familiares foram precursoras dos princípios de ESG antes mesmo desse termo ser amplamente adotado. Embora o conceito de ESG como conhecemos hoje seja relativamente recente, as práticas que ele promove muitas vezes têm sido parte intrínseca da maneira como muitas empresas familiares são geridas há décadas.
Existe um estágio pré-determinado de crescimento em que a empresa precisa voltar seu olhar à governança?
A governança é importante em todos os estágios da empresa, mas é crucial que ela seja construída e formatada para se adequar às necessidades específicas de cada empresa e sociedade, e, principalmente, que evolua de forma adaptativa e contínua à medida que a empresa e a sociedade crescem.
Em empresas de menor porte, especialmente aquelas em crescimento acelerado, uma governança eficaz pode apoiar o empreendedor complementando suas competências para sustentar o crescimento ao mesmo tempo em que ajuda a mitigar riscos e crises que o próprio crescimento acelerado pode causar.
Nas empresas já estabelecidas e estruturadas sob a liderança do fundador, a governança pode apoiar na construção de um negócio mais perene, contribuindo para criar um processo decisório menos solitário, e apoiando no processo de sucessão e manutenção de seu legado, por exemplo.
Já as empresas familiares de segunda e terceira geração, de maneira geral, entendem claramente os benefícios de uma governança mais estruturada pois “sentem na pele” os desafios de organizar seu processo decisório e promover uma melhor separação dos “chapéus de acionista, familiar e gestor”. Portanto, a governança deve ser vista como um “sistema” estratégico para promover a geração de valor sustentável para qualquer organização.
Qual a proposta do curso Governança Corporativa em Empresas Familiares do instituto? Poderia falar sobre o seu conteúdo e diferenciais?
O objetivo do curso é proporcionar debate não só sobre a governança na empresa familiar, mas também na família empresária.
É ajudar o aluno a entender qual é o papel da governança e das suas estruturas na empresa, mas também a governança familiar e seus aspectos que irão influenciar de forma determinante a vida da família empresária, como, por exemplo, o processo sucessório, o regramento das relações societárias através dos acordos de acionistas, e o alinhamento familiar através dos protocolos definidos junto à família.
É fazer compreender exatamente a dinâmica e interdependência entre família-patrimônio-empresa que mencionei na resposta à sua primeira pergunta. Tudo isso aplicado de uma forma muito prática com quem vive o dia a dia das empresas familiares, fazendo o debate de casos, o networking e a troca de experiência entre os participantes do curso.
No módulo de sucessão na empresa familiar, por exemplo, trago para o curso discussões de casos de sucesso e de insucesso que vivenciei, identificamos e discutimos questões comportamentais que afetam os envolvidos no processo, os desafios na formação de herdeiros, processos de avaliação, entre outros temas relacionados, tudo isto com muito debate e troca de experiências.
O curso é direcionado exclusivamente para membros de famílias empresárias?
Enquanto o curso é extremamente relevante para membros de famílias empresárias, ele também é voltado para todos os demais profissionais que participam da vida da empresa familiar, como executivos, conselheiros e assessores que lidam e interagem com este universo. De maneira geral, este é o perfil dos alunos do curso de Governança Corporativa em Empresa Familiar.
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